A Cartilha de uma Jovem Garota em Como Alcançar a Classe Ociosa
06/02/2010 at 21:40 Deixe um comentário
por Valerie Solanas
Sendo recém-saída da universidade eu me encontrei no dilema tipicamente feminino de trinchar por mim mesma num mundo masculino um modo de vida apropriado para uma garota de bom gosto, cultura, e sensibilidade.
Não deve haver nada grosseiro – como trabalho. No entanto, uma garota precisa sobreviver. Então, após uma fria avaliação do cenário social eu finalmente encontrei uma excelente ocupação remunerada, desafiadora à engenhosidade, que permite lidar em seus próprios termos com as pessoas e proporciona independência, horários flexíveis, ótima estabilidade e o mais importante, uma grande quantidade de tempo livre, uma ocupação altamente apropriada às sensibilidades femininas.
Eu contemplo minha boa sorte assim que começo o trabalho do dia:
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Claro, querida, aqui.”
É meu corpo selvagem – fisga eles quase todas as vezes.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Não.”
– “Tem dez?” Você tem de continuar chateando-os.
– “Não.”
– “Cinco?”
– “NÃO!”
– “Uma nota de dólar?” Pense grande.
– “Aqui, tome vinte cinco centavos.”
Se soma rápido. Quatro e cinquenta uma hora. Duas horas e eu posso cair fora e escrever.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Não.”
– “Tem dez?”
– “Não.”
– “Cinco?”
– “NÃO!”
– “Um dólar?”
(Cedendo) – “Aqui, tome vinte cinco centavos.”
Eu guardo os vinte e cinco centavos. Uma conhecida aparece:
– “Ei, Val, tem dez centavos?”
– “Cai fora, sua trapaceirazinha desgraçada.”
“Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Sim, mas não pra você.”
– “Você se interessa por palavrões?” Eu tenho uma esquina no mercado de palavrões.
– “Vamos lá, quinze centavos por uma palavra suja.”
– “Aqui, quinze centavos. Me diga a palavra suja.”
– “Homens.”
“Que tal outra?”
“Com licença, senhor, você tem quinze centavos?” Eu não digo que é para transporte, a menos que perguntem; a preciosidade do meu tempo exige brevidade.
– “O que eu ganho por quinze centavos?“
– “Que tal um palavrão?“
– “Essa não é uma compra ruim. Okay, aqui. Agora me dê a palavra.“
– “Homens.“
“Querida, você se interes…”
– “Policial! Essa garota! Ela tá mendigando!”
– “Se eu pegar você mendigando mais uma vez na Sexta Alameda vou colocá-la no xadrez.”
– “Okay, vou me mover pra Praça Sheridan e pedir em frente ao Jack Delaney’s.”
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Eu tenho muito mais do que quinze centavos.”
– “Maravilha! Então você pode pagar meu jantar.”
Levo-o ao Jack Delaney’s rapidamente, antes que ele tenha alguma chance de protestar.
– “Desculpe, mas nós não servimos mendigos aqui.”
– “Prejuízo seu, gordo imbecil; eu sou uma grande comedora.”
Então nós vamos comer na Blue Mill Tavern. São três quarteirões, mas eu o mantenho falando e andando rápido, e ele ainda estará intacto quando chegarmos lá.
– “Você é uma Lésbica?”
– “Sim.”
– “Diga me – o que vocês Lésbicas fazem?”
– “Bem, primeiro nós….”
– “É?”
– “Então nós….”
– “Éééé?”
– “E aí nós….”
Os olhos dele estão vidrados: – “ÉÉÉÉ? Ei, isso eu gostaria de ver.”
– “Por vinte e cinco paus cada eu acho que posso providenciar isso.” Dirijo-me à Sexta Alameda e à Oitava Rua. “Ei, Gwen….”
Quarto para três no Hotel Earle. Esse é um de preço baixo – olha e bate uma; poupa vinte e cinco paus adicionais.
Três dias livres, então de volta ao trabalho.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “No entiendo.”
– “Tiene usted quince centavos?” Poucos podem escapar.
– “É, eu acho que sim. Tome.”
Aí vem aquele velho desamparado:
– “Diga, moça, você poderia me ajudar? Tudo o que eu preciso são de sete centavos pra comprar minha bebida.”
– “Seu mentiroso desgraçado, você não quer uma bebida; tá juntando dinheiro pra fundo mútuo de investimento.”
“Com licença, garotinho, você tem quinze centavos?”
– “Desculpe, senhora, tudo o que eu tenho são vinte e cinco centavos.”
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Diga-me onde há algumas garotas e eu te dou um dólar.”
– “Okay, dê-me o dólar.”
– “Aqui.”
– “Há garotas por toda a rua. Até mais.”
Eu passo por um orador de calçada. Ouço um pouco. Um socialista. Ouço por um tempo, então saio, continuando a fazer minha parte para realizar o socialismo, permanecendo fora do mercado de trabalho. Mas primeiro algumas aquisições do 5 & 10, já que é bem aqui. Eu entro, considerando o que mais eu, como uma mulher, posso fazer pelo meu país – roubar em lojas.
Eu peço no caminho de casa com as mercadorias, então peço até a Rua Bleecker.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Em troco?”
– “Se você preferir em cédulas, tudo bem por mim.”
– “Eu vou querer alguma coisa pelas cédulas.”
– “Então dê-me só quinze centavos.”
– “Não, espere um minuto, talvez nós podemos fazer um acordo.”
– “Dê-me quinze centavos, ou eu tô saindo.”
– “Okay, aqui tão os quinze centavos. Agora, espere um minuto; não vá.”
– “Olha, meu tempo é valioso. Ficar aqui falando com você vai me custar quatro e quarenta e cinco a hora.”
– “Então dê-me quinze minutos por um dólar e treze.”
– “Okay, adiante. Agora, sobre o que você quer falar?”
– “Onde eu consigo uma garota?”
– “Por dez paus eu te apresento a uma.”
– “Isso é tudo? Só dez paus?”
– “Esse é o meu preço pra a apresentação. Então você terá que negociar com ela. Vamos lá, essa garota é um nocaute…… Ei, Mary Lou….”
“Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Pra quê?”
– “Passagem de metrô.”
– “Por que você não pede a um tira?”
– “Eu pedi. Ele disse pra eu pedir a você.”
– “Aqui.”
Aquela garota entregando anúncios para uma conferência parece estar entregando-os somente aos homens. Eu sigo-a por um tempo e vejo. Sim, é exatamente isso o que ela está fazendo.
– “Diga, moça, por que você tá entregando esses cartazes somente aos homens?”
– “Eu estava? Eu nem tinha percebido. Instinto, eu acho. Eu não tenho muitos desses, e essa conferência é um tanto intelectual, sabe, então eu entrego àqueles que…bem… sabe, parecem intelectuais.”
Eu devo admitir que estou impressionada – ela foi lindamente programada.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Você é uma daquelas vagabundas na sua idade? Saia daqui antes que eu chame um policial.” Eu deveria saber bem antes de me aproximar de velhos extravagantes.
– “Val, consegue um freguês pra mim, vai? Eu tava caçando nos bares e não há um freguês à vista.”
– “O que você quer dizer? Os bares tão lotados de caras.”
– “É, mas nenhum deles vem falar comigo – eles são tímidos.”
– “Então fale com eles.”
– “E ser expulsa? O quê? Você tá brincando?”
– “Então fique na frente dos bares. Aborde-os às quatro quando eles estão fechando; eles vão cambalear pra fora, completamente bêbados e excitados, e lá estará você – Senhorita Última Chance.”
– “Aaaah, estou farta de fazer programas. Dinheiro, eu odeio dinheiro. Por que nós temos que precisar de dinheiro? Ei, por que eu não posso pedir com você?”
– “Por que você não pede por si mesma?”
– “Oh, eu nunca poderia fazer isso sozinha.”
– “Como nós duas faremos isso?”
– “Nos aproximaremos de um cara juntas e você pede a ele trinta centavos.”
– “Nah, eles sabem que nós duas não perdemos nossas passagens. Além disso, eu costumo conseguir trinta, de qualquer maneira, e além disso, você vai me atrasar e só estragar meu ato. Eu vou lhe dizer o que fazer – eu vou pedir aqui e você pede do outro lado da rua.”
– “Mas o que eu vou fazer?”
– “Só peça-os quinze centavos.”
– “Mas e se eles recusarem?”
– “Você pede a mais uns caras. Olha, peça a esse cara que tá vindo agora.”
– “Ah, ele não daria pra mim.”
– “Como você sabe?”
– “Eu apenas sei. Eu vou abordar aquele cara usando um terno.”
– “Não significa nada, mas vá em frente, aborde-o.”
– “Uh, você tem quin… Ele continuou andando; nem sequer reparou em mim.”
– “Siga-o! Aborreça-o! Aborreça-o!”
– “Ah, isso não adiantaria nada. Deixe-me tentar esse que tá vindo.”
Ela se aproxima de um cara acompanhando uma mulher: “Você tem quinze centavos?”
– “Desculpe.”
– “Tony, há tanta escória por aqui.”
– “Não aborde um cara com uma garota. Como ele vai deixar ela saber que ele é um condenado?”
– “Vou tentar esse cara: Você tem quinze centavos?”
– “Não, desculpe.”
– “Venda-o um palavrão.”
– “Quem diabos vai comprar um palavrão?”
– “Olha, por que você não apenas cai fora? Você tá me fazendo perder dinheiro.”
A garota é uma incompetente e vai acabar em um emprego.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Por que você tá me abordando? Eu pareço com um turista? Deve ser esse terno suburbano que estou vestindo.”
– “Não, você parece um especialista em conversa. Quer comprar uma hora por seis paus?”
– “Hora de quê?”
– “Conversa.”
– “Eu posso falar sobre qualquer coisa?”
– “Qualquer coisa.”
– “Qualquer coisa?”
– “Qualquer coisa.”
– “Até sexo?”
– “Até isso, e por quatro paus adicionais eu faço ilustrações no guardanapo.”
– “Seis paus, huh? Okay, onde nós vamos pra essa conversa?”
– “Um restaurante; você tem que me pagar o jantar enquanto conversamos.”
– “Que tal o Feejon’s bem aqui?”
– “Não dá – eles não servem mendigos aí.”
– “Diga, posso lhe fazer uma pergunta pessoal? Você é uma Lésbica?”
– “Sim, por quê?”
– “Você se importaria de me dizer o que vocês Lésbicas fazem?”
– “Bem, primeiro nós….”
– “É?”
– “Então nós….”
– “Ééé?”
– “E então….”
Os olhos dele estão vidrados: – “ÉÉÉÉÉ? Ei, isso eu gostaria de ver.”
– “Por vinte e cinco paus eu acho que posso providenciar isso.” Dirijo-me à Sexta Alameda e à Rua Oito.
“Ei, Mary Lou….” Quarto para três no Hotel Earle.
Não vou tirar amanhã de folga, apesar da boa noite de hoje. Não posso – preciso de roupas de inverno. Mas vou ser breve, sem desperdício de tempo. Eu peço no caminho de casa, planejando a agenda da próxima noite: pedir por aí, seis paus pela oportunidade de chatear, mastigar um lanche rápido, então ir pra casa. Acho que vou comer no Lindy’s amanhã.
Eu peço no meu caminho para o metrô, saio na Quinquagésima Rua, e peço até o Lindy’s. Há um freguês olhando de soslaio ali fora, pronto e esperando. Como ele sabe que eu estaria aqui?
– “Com licença, senhor….”
Eu peço no meu caminho de volta ao Village.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Ei, quão longe você foi na escola?”
– “Isso é conversa. Eu cobro seis paus a hora por isso.”
– “Você é daqui?”
– “Isso é conversa.”
– “Ah, vamos lá. Só me diga – onde tem uma festa?”
– “Isso é conversa.”
– “Okay, Okay, tome.” Saio para um outro encontro espirituoso com a brilhante, inventiva mente masculina.
– “Com licença, senhor, você tem quinze centavos?”
– “Eu nunca fui abordado por uma mendiga antes, então acho que você merece alguma coisa. Aqui estão cinquenta centavos.”
Ali estão Betsy e Eileen se agarrando e se beijando como de costume.
– “Vocês duas nunca fazem qualquer outra coisa?”
– “Cara, o que há mais nesse lugar a se fazer?”
– “Tony, mais escória. Elas estão por todos os lugares.”
Eu peço ao longo das mesas do pátio externo do Granado’s e ao redor do quarteirão. Esse serviço oferece vastas oportunidades para viagens – várias e várias vezes em volta da quadra. E pensar que algumas garotas se contentam com a Europa.
– “Com licença, senhores, vocês têm quinze centavos?”
– “Lóoogico, aqui estão vinte e cinco centavos. Dê à garota vinte e cinco centavos, Pete. Dê à ela vinte e cinco, Joe. Agora diga-nos – onde está a ação?”
– “Eu sou a ação.”
– “Bem, então vamos.”
– “Esperem. Eu tenho que comer primeiro, e se vocês querem falar comigo enquanto eu como são seis paus a hora.”
– “Então dizer o que – só nos diga onde há um bom ponto.”
– “Por três dólares cada eu mostro a vocês um ponto fora-desse-mundo, simplesmente inacreditável. As garotas estão lá! Uuuuuh, as garotas sujas estão lá!!!”
– “ÉÉÉ!! Sabe, Pete, isso só pode valer três dólares cada.”
* N.T. (Artigo não-ficcional publicado na revista Cavalier em 1966).
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